Museu Cluny, artigo por Flavia Pires
Museu Cluny
Na verdade, estive apenas uma vez logo nas primeiras vezes que fui à Paris no final dos anos 80, mal me lembrava do Museu Cluny, salvo a tapeçaria “A Dama e o Unicórnio”.
Aproveitei minha temporada parisiense este ano que fiquei bastante tempo para voltar. E como sempre costumo contar por aqui, os anos nos fazem muito bem quando amadurecemos não só a idade, mas o nosso olhar muda em relação a tudo. O curso de história que faço à sete anos, religiosamente uma vez por semana, me despertou e me fez treinar esse olhar e apurar o gosto pela arte em todos os sentidos. Fiquei encantada com o que encontrei neste antiquíssimo e bem preservado acervo de arte medieval.
O museu está instalado em dois edifícios históricos adjacentes: as Termas Galo-Romanas (séculos I-III d.C.) e a ala residencial dos monges de Cluny (século XV), chamada de Hôtel de Cluny. Sua coleção vem sendo reunida desde a formação do núcleo original de peças pertencentes ao colecionador Alexandre du Sommerard , que por algum tempo residiu no local. Desde sua fundação como museu em 1843 a coleção vem sendo ampliada, e hoje é capaz de formar um panorama abrangente de arte e história desde a Gália Romana até o século XV.
Em anos posteriores o edifício serviu para várias finalidades, e entre seus ocupantes estiveram Maria Tudor e o Cardeal Mazzarino, sendo confiscado pelo estado em 1793. Alexandre de Sommerard se mudou para lá em 1833 e instalou sua grande coleção de peças medievais e renascentistas, que constituíram o núcleo inicial do museu.
Falecendo em 1842, sua coleção foi adquirida pelo estado e seu filho foi indicado curador, sendo aberta ao público no ano seguinte. A configuração do interior ainda é a mesma da época de sua construção, e o conjunto é um dos mais significativos exemplos de arquitetura do fim da Idade Média em Paris.
No início do século XVIII a Universidade de Paris se transferiu para a região que mais tarde se tornaria o Quartier Latin. Como era hábito, a universidade era a um tempo centro de estudo e moradia. O colégio foi erguido na segunda metade do século XIII onde hoje é a Sorbonne, e já não existe mais, e a parte residencial foi levantada a partir de 1334, incorporando o frigidarium das antigas Termas Galo-Romanas. Foi reconstruído no século XV pelo abade de Cluny, Jacques d’Amboise, numa combinação de elementos góticos e renascentistas, criando um pátio cercado de muros e duas alas de aposentos, de dois andares.
As Termas Galo-Romanas são um dos mais importantes sítios arqueológicos romanos em solo francês, remanescentes de um tempo em que Paris, a antiga Lutécia, se desenvolvia em uma grande cidade, com imponentes monumentos e villas aristocráticas. Parte do edifício está em um estado bastante razoável de conservação em virtude de seu uso continuado ao longo de toda a Idade Média, servindo a diferentes usos após sua desativação como casa de banhos. Divide-se em três espaços principais: O antigo frigidarium (anexado ao Hôtel), uma calda e um caldarium, estes últimos em estado de ruína parcial, mantendo ainda as paredes e fragmentos decorativos como mosaicos.
Os espaços do Hôtel e das Termas estão integrados num percurso museal unificado, com cerca de 20 salas de exposição. O complexo é completado por um jardim de 5 mil m² que recria em uma interpretação livre o espírito dos jardins medievais.
Fotos Flavia Pires, todos os direitos reservados.