São mais de 1200 variações de queijo francês. Posição nobre em qualquer jantar na França. O queijo é paixão nacional. É paixão pessoal. E, eu confesso, sigo com saudade do queijo minas…
MAS O FRANCÊS COME, PORQUE AMA QUEIJO OU AMA QUEIJO FRANCÊS, PORQUE COME?
Antes de falar nessa importante tradição francesa, vamos falar de amor. Memória afetiva é a memória emocional. É prazer materializado. Bolinho de chuva da vó. Arroz, feijão, bife e batata frita. Mexe com os nossos sentidos, armazenados como sensação de prazer. Amo muita coisa. Tomate. Correr. Ler. Pizza no domingo. Ar condicionado. Vestir uma roupa nova. Jantar fora. Cinema. Exposição. Brisa com cheiro de férias. Não curto dieta, mas amo ser magra. Vinho. Mais vinho. E queijo! Tudo isso de alguma forma vem se acumulando na minha memória sensorial ao longo da vida. Você também tem seu script particular. E o francês tem também o dele.
Desde criança, pão e queijo são habituais no prato de qualquer pequeno francês. Quase um mito fundador da sociedade francesa. O hábito do queijo à mesa é passado por gerações. E é coisa muito séria. Cada francês consome em média 25kg de queijo por ano. Pódio para o Emmental. No entanto, o primeiro queijo francês a ter sua apelação reconhecida foi o Roquefort, em 1925. E dai seguiram-se mais 46 registros protegidos até hoje.
Tradição. História. Prazer. Vício. Oi? Sim, vício. Segundo estudo feito pela Universidade de Michigan, o laticínio contem uma substância estimulante. Sua ação acontece nas mesmas partes do cérebro atingidas por drogas viciantes, como a cocaína, por exemplo. Compreendido então, porque nenhum ser humano é capaz de comer apenas um pedacinho de queijo.
PÃO PÃO, QUEIJO QUEIJO
Não é pão de queijo – infelizmente. É cada um no seu quadrado.
Brie gratinado com geleia. Pode? Nãaaaaaaao! Na França não pode. Para o chinês, arroz com garfo e faca. Para o belga, gelo na cerveja. Para o japonês, manga no rolinho. Para o italiano, creme de leite no risoto. Mas no Brasil pode. Tudo pode. Caipirinha com vodca, farofa de castanha, moqueca de legumes, e por aí vai… e vai botando agua no feijão.
O Brasil é um país criativo. Isso é fato. Irreverente. Flexível. Tudo pode ser reinventado a qualquer momento. Revisitado – como dizem os chefs. Mas a França curte uma tradição. E o queijo francês também possui seu manual. Então vamos ao guia pratico francês:
Posição no cardápio
Após o prato principal e antes da sobremesa e ponto final.
Entrada. Prato principal. Salada. Queijo e pão. Sobremesa.
Atenção, é queijo e pão! Queijo no pão, nem pensar.
Ornamentação
Não rola! Geleias e ervas não são aceitas. Gratinado, não. Na massa folheada, também não!
Preparo
É preciso tirar o queijo da geladeira no mínimo 2 horas antes de servir. Não pode ser gelado.
Qual queijo francês servir
No mínimo 3 tipos diferentes. Sendo, 1 representante chèvre; 1 representante mais durinho – tipo Comté; 1 mais molinho, de famílias como Brie e Camembert.
Existe uma faca especial?
Sim! Cada queijo possui a sua. A mais comum é aquela com a pontinha virada, justamente para você cortar e coloca-lo no seu prato sem precisar tocar.
Variação na ordem
Sim é possível. Você pode comer o queijo com a salada e deixar o pão sozinho no final. Nesse caso, precisa ser a típica francesa ou seja: verde + molho, e só. Se a salada vier antes do queijo, aí pode ser uma salada mais elaborada com outros ingredientes. E então come-se o queijo com pão, após a salada. Nos jantares mais chics serve-se a salada na demi-lune – hoje esta um pouco em desuso, mas é bem sofisticado.
Mas e o pão?
Nas situações mais requintadas serve-se pão com nozes ou passas. Nas ocasiões menos sofisticadas, vai de baguette Cortada na diagonal. Ou, para demonstrar intimidade, pode ser cortada à mão. Um ato social de integração à mesa. Vive la France!
MAIO – O MÊS GRUYÈRE
O dia nacional do queijo é comemorado na França em final de março. Porém maio é a grande vedete! Repleto de feriados, atende pelo codinome de “mês Gruyère”. Aquele queijo todo furadinho e delicioso, assim como o seu mês homônimo.
Preciso confessar. Vivi bem esse mês que termina hoje. Feriados e viagens. Bons vinhos – se for com queijo, é sempre tinto. E na Alsacia, uma descoberta. Éleveurs de fromages. Afinador de queijos. Disputados pelas varias estrelas Michelin mundo a fora. São artistas, não são produtores. Eles afinam e amadurecem o queijo em caves especiais, ao ponto da perfeição. Cada tipo de queijo requer uma atmosfera especial e, portanto, uma cave específica.
Eu comi. Comi 12 pedaços. Na porcelana dispostos como um relógio de ponteiro. Ahhhh… São tempos líquidos. Amores líquidos. Como lindamente defendeu Zygmunt Bauman. Sabe o lance da memória afetiva? Ficou.
Escrevo. Lembro. Sinto. Feliz.
Amo os seus textos sempre quero ler mais !!
Minha lindinha,
Parabéns pela coluna, tenho acompanhado encantada, você é muito talentosa, na verdade, você é FODA e eu te amo❤️
Amei!!!! Muito bom!!! Parabéns! Amo os seus textos!!! Escreva mais, bem mais!!!
PS: minha memória afetiva foi ativada com sucesso!
Mais um texto excelente,
Adorei